Nesta pequena cápsula analisamos duma perspetiva filosófica e marxista, o termo “Woke”, popularizado na última década para conceitualizar as políticas fragmentadas e parciais da esquerda posmoderna e sistémica no occidente capitalista, que evitam afrontar a base, a estrutura de classes e a desigualdade económica da sociedade e o modo de produção capitalista.
O termo “woke” surgiu inicialmente como um chamado à consciência social e política, especialmente relacionado ao combate ao racismo e à opressão. No entanto, ao longo do tempo, esse conceito foi distorcido e absorvido por círculos acadêmicos e políticos, especialmente no âmbito do Partido Democrata e de algumas universidades nos Estados Unidos, transformando-se em algo bem distante de suas origens.
Um dos primeiros usos registrados de “woke” no sentido figurado aparece na década dos 30, numa música de 1938 chamada Scottsboro Boys do cantor de blues Lead Belly. Na canção, ele aconselha: “Stay woke”, referindo-se à necessidade de estar atento à injustiça racial nos Estados Unidos. Durante a metade do século XX, “woke” foi associado à conscientização e vigilância em relação à discriminação racial, especialmente em contextos relacionados ao movimento pelos direitos civis nos EUA. O termo voltou a ganhar força na década de 2010, amplamente utilizado nos movimentos sociais, como o Black Lives Matter, para descrever indivíduos ou comunidades que são “acordados” para questões de injustiça racial, social, e política.
No entanto, ao longo do tempo, esse conceito foi distorcido e absorvido por círculos acadêmicos e políticos, especialmente no âmbito do Partido Democrata e de algumas universidades nos Estados Unidos, transformando-se em algo bem distante de suas origens. Hoje, o “woke” é associado a uma ideologia que prioriza a percepção subjetiva do indivíduo sobre qualquer análise coletiva ou estrutural, propondo uma visão da realidade baseada na identidade pessoal e nas experiências individuais.
Este movimento se apoia fortemente nas ideias da pós-modernidade, que rejeitam a ideia de uma verdade objetiva ou universal, afirmando que a realidade é uma construção social e, portanto, subjetiva. No entanto, essa abordagem ignora as condições materiais e históricas que moldam as relações de poder e a desigualdade social. Ao focar na experiência individual e na identidade como elementos centrais da luita, o “woke” acaba obscurecendo as questões estruturais e coletivas que geram a opressão, como o capitalismo, o patriarcado e o racismo sistêmico. Em vez de combater as estruturas de poder e as desigualdades sistêmicas, o movimento tende a se concentrar em questões de representação e reconhecimento, muitas vezes reduzindo as lutas políticas a questões identitárias e performáticas.
Além disso, o “woke” se apresenta de forma muitas vezes superficial, com um foco excessivo na linguagem e em pequenas correções culturais, como o uso correto de pronomes e a representação em mídias, sem abordar de forma profunda as causas estruturais da desigualdade. Esse ativismo identitário e fragmentado, ao invés de fortalecer as luitas coletivas e classistas, acaba por fragmentá-las, criando divisões entre diferentes grupos e desviando o foco da necessidade urgente de transformação social profunda. Ao invés de desafiar as bases do sistema capitalista e suas formas de exploração, o “woke” muitas vezes se conforma com ajustes superficiais, colaborando com a manutenção de um status quo que continua a beneficiar as elites.