Na seguinte cápsula refutaremos com diferentes argumentos o razoamento idealista burgués de que são a ESPERA, o RISCO assumido polo capitalista ou a INFORMAÇÃO as que criam ou produzem o valor. É um resumo e escolma de argumentos recompilados a partir do magnífico vídeo do camarada argentino @el_fundido rebatendo afirmações do liberal espanhol J. R. Rallo.
Em primeiro lugar, há que esclarecer que Marx nunca afirmou na sua obra que o risco, a espera ou possuir informação sejam desnecessários para produzir. Ele apenas afirmou que essas ações, por si próprias, não produzem o valor! Rallo sim afirma que produzem valor, e é o que @elfundido lhe desmonta.
O RISCO não cria valor. O risco é só a possibilidade de uma ação realizada não produzir resultados, mas esse risco não é o que gera valor, nem o valor fica determinado polo risco, desse jeito, investimentos arriscados podem ser pouco rentáveis e outros menos arriscados, muito rentáveis.
Por outro lado:
+ Os operários também arriscamos a que não nos paguem finalmente o trabalho.
+ Não temos capital que arriscar, só a força de trabalho.
+ Também sofremos as consequências das más decisões do risco que o capitalista corre com as suas ações e o seu capital.
– Os e as TRABALHADORES somos quem mais vida arriscamos (saúde, ter de comer, tempo de vida…) Assumimos um verdadeiro RISCO EXISTENCIAL.
– O capitalista o máximo que arrisca é ter que trabalhar como um obreiro!
A ESPERA. Em primeiro lugar, uns esclarecimentos de pura lógica:
– Esperar que algo aconteça, não é o mesmo que produzir que algo aconteça.
– Tampouco impedir que algo aconteça é produzir esse algo. Que o capitalista poda interromper um processo, não muda a questão.
Decidir não agarrar um objeto que cai não causa a gravidade!
Esperar que algo aconteça não explica PORQUÊ E COMO esse algo acontece. Simplesmente se assinala uma das condições baixo as quais se pode produzir (que é um processo temporal, igual que esperar a que um limoeiro dê limões) não explica como se ORIGINA ou se produz riqueza ou valor.
Rallo confunde ‘APROPRIAR-SE de’ com ‘PRODUZIR’. Confunde o porquê de que o capitalista se aproprie desse valor, com o a explicação de como e quem produz esse valor.
O que fai Rallo é supor que porque o capitalista recebeu o valor do produzido ele é quem o produziu!
Em definitiva: esperar a que um obreiro produza valor não é produzir valor. Se a riqueza fosse produzida por factores como o risco ou a espera, não se veria afectada a produção polas decisões tomadas pola massa trabalhadora, nem lhe afetariam greves nem a luita sindical
Outro argumento de conhecidos ultra-liberais contemporâneos, como o galego Miguel Anxo Bastos, ou os espanhóis Juan Ramón Rallo ou Huerta de Soto é o de que o trabalhador prefere não esperar e receber por adiantado co salário o pago polo valor do que produz.
Esta argumentação é completamente falsa. Vejamos: o trabalhador já entrega de início a sua força de trabalho.
O capitalista não adianta o dinheiro ao trabalhador polos produtos que vai a produzir ou por utilizar a maquinaria.
O capitalista PAGA a FORÇA DE TRABALHO do obreiro que já está produzida, que já oferece o trabalhador pronta no mercado. Não está adiantando nada.
E não, o capitalista tampouco adianta o capital constante (o valor das máquinas) a maquinaria continua sendo do capitalista. O que fai é comprar a força de trabalho para que operemos essas máquinas suas. Ademais quem produziu o capital constante também foram outros obreiros!
Ademais, o objeto produzido polo operário pode ser um produto final ou pode ser um insumo para um outro processo produtivo posterior (um bem intermédio para outro processo de produção).
O que realmente pagam é a nossa força de trabalho como trabalhadores, se pagaram polo produzido, então seríamos dalguma forma sócios da empresa. Aqui o determinante é a propriedade dos meios de produção, não a maior ou menor justiça distributiva.
J. R. Rallo confunde as cousas. No capitalismo não lhes correspondem aos trabalhadores os benefícios, mas não porque não os tenham produzido (que sim), senão porque no sistema capitalista não lhes corresponde porque não somos os donos dos meios de produção.
Por isso Rallo tem que incorrer em ATRIBUIR a CAPACIDADE MÁGICA AO CAPITALISTA DE PRODUZIR VALOR com o RISCO ou a ESPERA.
PORQUE NEGA a verdade de QUE o VALOR É PRODUZIDO pola força de trabalho dos TRABALHADORES.
Pura metafísica e idealismo.
E por último o argumento de que o capitalista tem INFORMAÇÃO, conhecimento do mercado, mais IMAGINAÇÃO ou criatividade.
Em primeiro lugar, isto supõe mais idealismo burguês: o valor não se cria por imaginar cousas, mas por produzi-las materialmente, que é obra dos trabalhadores.
Para os liberais parece que só o empresário capitalista está em possessão de informações, imaginação e criatividade e os trabalhadores não.
Mas é precisamente a sua posição nas relações sociais (ser o proprietário dos meios de produção) o que lhe permite essa função ou tarefa.
Aliás, os trabalhadores no dia a dia e nas suas tarefas particulares no meio dos processos produtivos também devem criar, imaginar, inovar e ter estratégias e informações. Falar de imaginação ou criatividade do empresário aplicado só ao processo completo é uma abstração.
É mesmo infantil pensar que o engenho só o tem o capitalista, quando o sistema burguês tem apenas 300 anos na história da humanidade.
Por isso os liberais se esforçam sempre em descrever um mundo medieval de ruindade, pobreza e miséria e em eternizar as categorias capitalistas.
Por outra banda, cada vez há mais capitalistas enriquecidos pola economia financeira, que nem sabem o que se produz, nem quem a produz, nem como se produziu.
Manejam informações em Bolsa ou nem sequer isso, pagam a um gerente que invista em bolsa por eles.
Nas cooperativas, o sócio que fai o trabalho do capitalista (arriscar, esperar, ter informação..) só recebe o valor do trabalho que achega.
Portanto o valor do que se apropria um capitalista fica determinado por ser proprietário dos meios de produção, não por arriscar, esperar…
Igualmente, o trabalhador não tem condições para o aforro, o capitalista sim, por isso pode pospor o seu consumo muito mais do que um trabalhador. O propósito do capitalista é pagar o menor salário possível, que só assegure a reprodução da força de trabalho.
Em definitiva: o capitalista apropria-se do valor produzido porque é o proprietário dos meios de produção, não porque crie valor nem com o risco nem com a espera. O valor é objetivo e criado polos trabalhadores (tempo de trabalho socialmente necessário em produzir a mercadoria)
O capitalista não é capitalista polo facto de tomar decisões (pois muita da informação e decisões podem ser tomadas polos trabalhadores que ele contratou, e ele mesmo pode não fazer nenhum trabalho) é capitalista polo facto de ser proprietário dos meios de produção.