Esta é uma coletânea de ideias breves para divulgar, sobre a Revolução Galega de 1846, que tivo carácter de libertação nacional e independentista e que é ocultada pola historiografia espanhola. Também falamos sobre um dos grandes intelectuais e artífices da mesma, Antolim Faraldo, e outros protagonistas desta nossa história.
A nossa revolução sim tivo apoio popular, foi do povo. Foi uma verdadeira sublevação popular que se liga às revoluções europeias em torno a 1848, incluída a de Portugal.
2. Antolim Faraldo foi um independentista da época e um grande socialista utópico. O provincialismo apenas é a palavra que se utilizava naquele contexto histórico, mas não se procurava ser uma província única (ninguém dá a vida por isso), mas a plena soberania do povo galego.
3. O apoio popular na revolta é evidente com a formação de Juntas Populares Locais e a repressão sofrida polos apoiantes. Relatos de militares espanhóis confirmam que o povo apoiava a revolução, causando recuos e derrotas no exército espanhol, como a ocultada Batalha de Sigueiro
4. A vitória na batalha de Sigueiro é histórica e a reivindicar e deu o impulso ao surgimento das juntas locais, não foi uma simples ‘escaramuza’ como se afirma no livro de X. R. Barreiro que minimiza os factos e condicionou todo o relato atual desde a autonomia e o fraguismo.
5. Minimiza-se a intervenção do exército espanhol até o ponto de ocultar que mesmo a muralha de Lugo chegou a ser danada por um bombardeio à cidade.
6. Também se degrada a episódica e pouco relevante a Batalha de Sigueiro quando chegou a mobilizar até 12.000 combatentes entre ambos bandos.
7. Há também um paralelo nas formas e no contexto histórico com as revoltas independentistas em Latinoamérica, e também lá se falava de ‘provincialismo’.
8. O exército de Solis não terminou entrando na Corunha porque estava a aguardar a sublevação e apoio popular na cidade, que o exército leal a Espanha procurou que não fosse adiante com dura e violenta repressão para evitá-lo.
9. Há que refutar o mito do etapismo na conformação do soberanismo galego (provincialismo -> regionalismo -> nacionalismo -> independentismo), não foi assim a progressão, intelectuais como Faraldo demostram ter mais clara a ideia da independência do que regionalistas posteriores
10. Faraldo não era um jovem com ideias confusas, como trata de trasladar X.R. Barreiro, é porém um intelectual conhecedor dos grandes socialistas utópicos e filósofos da época, feminista e estudioso do Islam e a sua influência na Europa. Um intelectual completo.
11. Compre reivindicar também figuras como a de Pio Rodríguez Terrazo (Leiro 1800 – Compostela 1872) alcalde de Compostela e Presidente da Junta Superior Provisional do Governo de Galiza resultante da revolução (com Antolin Faraldo de secretário).
12. Manuel Buceta (Portas 1808 – Málaga 1882) que junto com Miguel Solis dirige o Exército Libertador de Galiza, cuma história digna de filme, Buceta mostra arrojo nas batalhas, mais do que nenhum outro e na derrota consigue chegar a Portugal disfarçado de mulher.
13. Não houvo uma deserção dos intelectuais deixando só ao exército, é outra tergiversação do relato, sim participaram e foram feridos nas últimas batalhas e chegam ao exílio com as feridas e se apresentam como veteranos de Santiago, pois estiveram presentes nessa última batalha
14. No levantamento há 3 planos:
– o militar, que responde à problemática sucessória espanhola
– a vanguarda soberanista, que lidera a intelectualidade socialista utópica (à par dos processos revolucionários da Europa)
– o povo, afetado pela pressão fiscal e a crise da pataca.
15. O livro de X.R. Barreiro minimiza a implicação socio-economica e oculta o plano popular, destacando só o plano militar e romântico (intelectuais com ideias confusas).
Existe no povo sentimento de aldragem pola crise agrária ou o cobro dos tributos diretamente aos labregos.
16. No 1845 temos a grande fome em Irlanda e a revolução de Maria da Fonte em Portugal. Na Galiza começa uma vaga migratória e a reforma de Mon-Santillán cobra os tributos aos labregos e não aos proprietários das terras. Um lema revolucionário era: “abaixo o sistema tributário”.
17. o Provincialismo galego é Independentismo desvergonhado, como provam os artigos que Antolim Faraldo publicou até poucos messes antes da revolução no jornal que dirigia, El Porvenir. E foi por isso que a censura lhe fechou o jornal.
18. Provincialismo era o nome que as Cortes de Cádis lhe davam aos movimentos revolucionários que procuravam mais autogoverno e que desembocaram em independentismo aberto e vitorioso depois nas colónias americanas, esse nome é o que se utilizou também no estado e para Galiza.
19. Faraldo falava de Galiza como nação e chamava a recuperar a independência da época do Reino Suevo.
A própria imprensa espanhola reconhecia-o e tentou ridiculizá-lo chamando-o “secretario de la patria de los suevos”
20. Na Academia Literária de Compostela, fundada em 1840 e grande núcleo irradiador do galeguismo na altura, o próprio Faraldo (1822-1853) já dera palestras sobre Feminismo e sobre o socialismo utópico e as ideias sobre educação de Charles Fourier (1772-1837)
21. Ramon de la Sagra foi outro dos mestres do provincialismo, redator de El Porvenir que dirigia Faraldo (conheceu Proudhon, Marx e Engels). Escreve uma carta no jornal coa nova do eco da revolução galega em Europa.Chama a Galiza a ocupar o lugar que lhe corresponde na história
22. Joana Veiga (Juana de Vega para a historiografia espanhola) jogou também um papel importante na preparação da revolução, uma das primeiras feministas do século XIX, tutora de Concepción Arenal e impulsora de El Álbum de la Caridad, fulcral na literatura do Ressurgimento.
23. O capitão geral Villalonga quis julgá-la e executá-la como uma das cabeças da conspiração que levou ao pronunciamento, mas o regime espanhol não assimilava que uma mulher pudesse ter tanta relevância naquele levantamento.
24. Os dous manifestos da Junta Superior do Governo da Galiza forom dos primeiros em ter um conteúdo claramente social e progressista em toda Europa, o segundo claramente dirigido às massas trabalhadoras, labregos como SUJEITO REVOLUCIONÁRIO, algo insólito em Europa.
25. O segundo manifesto já se desfizera dos enfeites de conteúdo monárquico (a causa inicial do pronunciamento de Solis fora em apoio de que a Rainha Isabel casasse com o Enrique de Borbon, que consideravam mais progressista, de ai os “vivas à rainha”). Agora o sujeito é o povo.
26. Faraldo morre no desterro em Granada em 1853 (na terra de Muhammad ibn Umayya, o seu admirado Abén Humeya líder da revolta mourisca andalusi na Batalha das Alpujarras no século XVI). Nunca renunciou às suas ideias, apenas se adaptou, com a derrota, ao progressismo espanhol.
27. O General Miguel Solis, que tomou decisões erráticas na revolta, e onze militares mais são executados em Carral, que é o que apanha a historiografia para construir o mito romântico dos Mártires de Carral como imagem para opacar a revolução galega toda, popular e soberanista.
28. O Banquete de Conxo lembra a Revolução dez anos depois, 1856.
Fanava a via político-militar e começava a via cultural co Ressurgimento. Murguia presencia o saqueio de Compostela e a morte dum revolucionário na botica do seu pai aos 13 anos. Pondal e Curros cantam à revolução.
29. – Não existiria soberanismo actual sem o auto-reconhecimento da Galiza como nação que Castelão indicava que tinha como berço inicial precisamente a Revolução Galega de 1846, e que o investigador Ernesto Vásquez Souza retrotrai também se calhar à Francesada em 1809.
Finalmente agradecer o enorme e impagável trabalho do professor César Caramés e os seus vídeos e material que temos na rede, do que deixo aqui um par de ligações, para termos mais e melhor conhecimento dos detalhes arredor da nossa grande Revolução Galega de 1846.