COMPARATIVA ENTRE O MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA E O CAPITALISTA DO PONTO DE VISTA DA ENTROPIA.
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Nesta cápsula veremos brevemente os conceitos de entropia e segunda lei da termodinâmica e vamos analisar qual sistema ou modo de produção, socialismo ou capitalismo, cumpre melhor com a segunda lei.
A Segunda Lei da Termodinâmica afirma que a entropia total de um sistema isolado — ou seja, a medida da sua desordem ou da irreversibilidade dos seus processos e da dispersão de energia — tende a aumentar com o tempo até atingir o equilíbrio termodinâmico. Quando o sistema atinge esse estado, não há mais fluxos espontâneos de energia ou matéria, e a energia se distribui de forma que possibilita o maior número possível de configurações microscópicas das partículas que o compõem. De maneira simples, isso significa que os processos naturais tendem a dispersar a energia e aumentar a aleatoriedade (desordem) na distribuição da energia ao longo do tempo.
A entropia pode ser entendida como a tendência de um sistema a ir para um estado de maior “desordem” ou distribuição uniforme de energia
Os ecossistemas ajudam a aumentar a entropia ao converter energia solar organizada em energia térmica dispersa (calor), contribuindo para o aumento da entropia no universo.
Mas o planeta Terra não é um sistema isolado! É um sistema aberto, ou seja, um sistema que troca energia e matéria com o ambiente. A Terra recebe energia do Sol, o que permite que, localmente, a entropia diminua temporalmente. A vida biológica é em realidade ordem criado (baixa entropia). Porém, esses ecossistemas biológicos têm a função dispersar essa energia solar em calor, uma forma de energia mais degradada e dispersa. Dessa forma, os ecossistemas biológicos ajudam a aumentar a entropia total do universo, cumprindo a Segunda Lei da Termodinâmica, que se dirige para o que chamamos de morte térmica — o estado de máxima entropia.
Degradação do gradiente Solar:
Os ecossistemas utilizam a energia solar, que chega à Terra na forma de radiação eletromagnética (principalmente luz visível e ultravioleta) e é convertida diretamente em outras formas de energia utilizáveis, como energia química através da fotossíntese ou energia elétrica por meio de células solares, quer dizer, permite sustentar processos biológicos, como a fotossíntese nas plantas. A energia solar é convertida em energia química armazenada em moléculas orgânicas. Essa energia química é então utilizada polos organismos nos níveis tróficos superiores (herbívoros, carnívoros, decompositores) e, finalmente, transformada em calor (a forma mais desordenada de energia) que é dissipado no ambiente. Esse calor se distribui de maneira aleatória entre as moléculas de ar, água e solo, aumentando a entropia do sistema.
A energia solar cria portanto um gradiente de energia (uma diferença) que os sistemas na Terra utilizam e dissipam. Essa é a forma na que se cumpre no planeta com a segunda lei da termodinámica: desfazendo o gradiente solar dissipando essa energia solar de alta capacidade (altamente concentrada, organizada e de baixa entropia, mais útil para realizar trabalho) em formas menos úteis (mais dispersa e de alta entropia), como é o calor.
Como vimos no artigo Termodinámica da Vida, a natureza aborrece gradientes, e desfazendo gradientes é que contribui à procura do equilíbrio termodinámico, gerando mais entropia, maximizando-a progressivamente. Os sistemas e organismos que dissipam essa energia de forma mais eficiente “degradan” melhor esse gradiente.
Também vimos que os ecossistemas e as espécies evoluem no sentido e direção que permita maximizar a utilização da energia disponível de maneira eficiente. Isso inclui a criação de ciclos biogeoquímicos e redes alimentares complexas que facilitam essa transformação e dissipação da energia solar. Nesse sentido, a evolução também deve ser vista e entendida como um processo que aumenta a eficiência da dissipação de energia, e que aumenta a entropia global, pois a energia é distribuída de maneira mais desordenada no ambiente.
Esse processo de dissipação, embora eficiente em termos de utilização de energia solar, ainda cumpre a segunda lei da termodinâmica, pois a energia útil (energia solar) é convertida em formas menos úteis (calor), aumentando a entropia.
Eficiência e Sustentabilidade:
A eficiência na degradação do gradiente solar não se refere apenas à rapidez com que a energia é dissipada, mas também à sustentabilidade dos processos envolvidos.
O capitalismo, ao acelerar o uso e dissipação da energia, degrada o gradiente solar rapidamente, mas de uma maneira que não é sustentável a longo prazo, pois como bem explicava Marx “O capitalismo tende a destruir suas duas fontes de riqueza: a natureza e os seres humanos”. Como consequência duma das suas principais contradições internas, o Capital, na sua procura constante de valorização sem fim, tende irremediavelmente ao crescimento e a geração de lucro infinito num planeta como a terra com recursos finitos. Esta contradição á uma das principais luitas de opostos que podemos apreciar no funcionamento do capitalismo.
Porém, um sistema socialista bem planejado pode degradar o gradiente solar de forma mais eficiente e sustentável, gerando entropia a um ritmo que permite a manutenção dos ecossistemas e a reutilização dos recursos.
Vejamos ambos casos e sistemas em detalhe.
Capitalismo e Entropia:
O capitalismo, com a sua produção anárquica de mercadorias, deixando em mãos dos capitalistas privados a decisão e capacidade de produzir de forma descoordenada no mercado, provocam um consumo intensivo de recursos e geração de resíduos maior, tendente a aumentar a entropia rapidamente, transformando recursos ordenados em energia dispersa e resíduos.
Esta rápida geração de entropia no capitalismo poderia ser interpretada como um cumprimento imediato da segunda lei da termodinâmica, pois cria mais desordem rapidamente. Embora a competição e a inovação podam de forma temporal reduzir a entropia localmente, elas geralmente aumentam a entropia globalmente devido ao uso intensivo de recursos e geração de resíduos. Impulsionado polo lucro, o capitalismo prioriza o crescimento econômico e a produção em larga escala, frequentemente à custa da sustentabilidade ambiental, levando à exploração excessiva de recursos e aumento da entropia.
Socialismo e Entropia:
O socialismo, o sistema de planificação econômica socialista, também aumenta a entropia, uma vez que, de acordo com a segunda lei da termodinâmica, qualquer processo de transformação de energia ou matéria tende a aumentar a desordem total do sistema. Assim como no capitalismo, a produção, distribuição e consumo de bens e serviços em um sistema socialista envolvem a transformação de energia e materiais, resultando na dissipação de energia útil e geração de calor, aumentando a entropia. Porém, a economia planificada, ao ser potencialmente mais eficiente na gestão de recursos e na redução de desperdícios, aumenta a entropia a uma taxa mais lenta, ao priorizar a sustentabilidade e a minimização de resíduos e não o lucro privado dos capitalistas.
A produção planejada tem potencialmente a capacidade de evitar a superprodução e subutilização de recursos, como ocorre frequentemente em um sistema capitalista, onde a oferta e a demanda podem estar desbalanceadas. As políticas centralizadas podem focar na conservação de ecossistemas naturais, que são fundamentais para a manutenção de ciclos biogeoquímicos e a redução da entropia a longo prazo.
A centralização socialista também facilita a aplicação de práticas sustentáveis em larga escala, como por exemplo a construção de infraestruturas energeticamente eficientes e a promoção de transportes públicos ecológicos, ou a implementação de tecnologias de energia renovável. No entanto, esta centralização socialista tem de ter presente o problema da tendência à burocracia e a ineficiências administrativas, que podem aumentar a entropia por causa de processos sociais e econômicos ineficazes; aliás a rigidez das estruturas centralizadas pode dificultar respostas rápidas a mudanças e inovações polo que é preciso corrigir e evitar também estes problemas.
Em definitiva, no socialismo a entropia aumenta também, cumprindo a segunda lei da termodinâmica, mas este cumprimento é mais eficiente porque é realizado de maneira mais controlada e sustentável.
Uma economia planejada permite portanto priorizar a sustentabilidade ambiental, promovendo o uso eficiente de recursos e a reintegração de resíduos nos ciclos de produção, diminuindo a entropia gerada polo desperdício e degradação ambiental. A centralização pode permitir políticas ambientais mais rigorosas e a implementação de tecnologias limpas de forma mais coordenada.
Morte Térmica do Universo
A morte térmica do universo é um estado hipotético em que toda a energia está uniformemente distribuída e não há mais gradientes de energia para realizar trabalho. Isso representa o ponto de máxima entropia.
Qualquer sistema na Terra, capitalista ou socialista, contribui para o aumento da entropia total do universo, mas é preciso indicar que em escalas de tempo humanas, essas contribuições são minúsculas em comparação com a enormidade do universo.
Nesta viagem rumo à máxima entropia, o capitalismo, ao aumentar a entropia mais rapidamente, pode parecer que cumpre melhor com a segunda lei, que nos aproxima mais rapidamente da morte térmica. No entanto, a sustentabilidade e a eficiência de um sistema socialista podem permitir uma gestão mais equilibrada dos recursos e da entropia, prolongando a capacidade de realização de trabalho útil por parte do planeta terra. O prolongamento da vida na terra favorece a dissipação do gradiente solar durante mais tempo, quer dizer, resulta mais eficiente termodinamicamente falando, para cumprir a segunda lei.
A aplicação da Segunda Lei da Termodinâmica aos sistemas econômicos não é contraditória, pois ambos aumentam a entropia, embora de formas e ritmos distintos. O capitalismo, com a sua rápida dissipação de energia e geração de resíduos, acelera esse processo, mas isso não o converte em mais favorável ou sustentável. Já o socialismo, com a gestão planejada de recursos, pode aumentar a entropia de forma mais controlada e eficiente, prolongando a sustentabilidade econômica e ecológica.
Em qualquer caso, não podemos perder nunca a perspetiva de que a morte térmica do universo é um conceito tão distante que os impactos dos sistemas econômicos atuais são insignificantes em comparação com as escalas cósmicas envolvidas.
Consideremos agora as dimensões políticas e organizativas dos sistemas socialistas e capitalistas. A longo prazo, qual dos dous sistemas, capitalismo ou socialismo é mais eficaz para reduzir o gradiente solar e cumprir com a segunda lei?
A longo prazo, o socialismo com planificação centralizada tem o potencial de ser mais eficaz na redução do gradiente solar, devido à sua capacidade de implementar políticas coordenadas e sustentáveis que promovem o uso eficiente da energia solar e a conservação dos recursos naturais. No entanto, a eficácia real depende da competência administrativa e da implementação de políticas eficientes.
Os capitalistas difundem ideias propagandísticas como a de “responsabilidade social corporativa” ou “capitalismo verde” para parecer que se alinham com as políticas respeitosas com os limites ecológicos. No entanto, a burguesia, como classe dominante e proprietária dos meios de produção, usa a sua influência política (o controlo da superestrutura) para moldar políticas públicas que favorecem a acumulação de capital, bloqueando regulações ambientais rigorosas que poderiam aumentar os seus custos de produção e reduzir os seus benefícios.
A concentração e centralização de capital é concentração de poder econômico que se traduz em poder político, dificultando a implementação de políticas ambientais eficazes que podam ameaçar os interesses financeiros da elite dominante.
A resistência da burguesia às regulações ambientais resulta em práticas industriais e comerciais que aumentam a entropia e degradam o ambiente, exacerbando a crise ecológica a longo prazo.
A dinâmica de poder no Socialismo é outra: no socialismo, sem uma classe dominante privada que possua os meios de produção, há potencial para uma governança mais equitativa por parte da classe trabalhadora, onde as decisões políticas podem ser mais orientadas para o bem comum e a redução do gradiente solar de forma mais eficaz.
Mas, perguntemo-nos para esclarecer definitivamente a questão: a “redução da entropia a longo prazo” que o socialismo promove de melhor forma, não iria realmente em contra da segunda lei da termodinâmica? Essa redução da entropia melhora ou piora a degradação do gradiente solar?
Esclareçamos por passos novamente:
– A segunda lei da termodinâmica afirma que a entropia de um sistema isolado sempre aumenta ou permanece constante; ela nunca diminui. A entropia é uma medida da desordem ou dispersão de energia em um sistema.
– Para sistemas abertos, como a Terra, que recebem energia externa (do Sol), a entropia local pode diminuir (organização e complexidade aumentam), mas a entropia total do universo ainda aumenta.
– Ambos os sistemas econômicos (capitalismo e socialismo) aumentam a entropia global porque qualquer processo de transformação de energia gera entropia.
IMPORTANTE – Quando mencionamos “redução da entropia a longo prazo” no contexto de um sistema socialista bem administrado, estamos nos referindo à gestão mais eficiente e sustentável dos recursos, o que pode reduzir a taxa de aumento da entropia, não a entropia em si.
Qual é a diferença entre uma cousa e outra: Reduzir a entropia significa reorganizar o sistema, revertendo parcialmente a desordem, o que só é possível em sistemas abertos, com gasto de energia externa. E reduzir a taxa de aumento da entropia significa apenas desacelerar o ritmo do aumento da desordem, sem revertê-la.
Exemplo:
Reduzir a taxa: Colocar um gelo em ambiente fresco para o derreter mais devagar.
Reduzir a entropia: Colocar o gelo no congelador e recongelá-lo.
Melhorar a eficiência energética e a sustentabilidade dos processos econômicos não vai contra a segunda lei da termodinâmica. Polo contrário, fai parte da degradação do gradiente solar de forma eficiente.
O socialismo, ao usar a energia solar de forma mais eficiente, realiza o mesmo trabalho com menos desperdício, resultando em um aumento de entropia mais controlado. A gestão centralizada pode priorizar sustentabilidade e eficiência, usando a energia de forma mais racional e controlando o aumento da entropia. Políticas coordenadas garantem a degradação eficiente do gradiente solar, alinhando-se com a segunda lei da termodinâmica ao aumentar a entropia global duma forma que prolonga a viabilidade dos sistemas naturais e artificiais.
Em conclusão:
Reduzir a taxa de aumento da entropia não vai contra a segunda lei da termodinâmica; significa usar a energia de maneira mais eficiente e sustentável. Um sistema socialista bem administrado vai ser sempre mais eficaz a longo prazo na degradação do gradiente solar de maneira sustentável, resultando em um aumento controlado da entropia. Isso não significa que a entropia diminui, mas que sua taxa de aumento é gerida de forma que maximiza a eficiência energética e a sustentabilidade, cumprindo a segunda lei da termodinâmica enquanto promove a viabilidade a longo prazo dos sistemas econômicos e ecológicos.
Quanto mais tempo mantenha o planeta Terra as suas estruturas dissipativas ativas (ecossistemas, processos biológicos), mais favorecerá a geração de entropia no universo, cumprindo a segunda lei da termodinâmica.
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